Festival Recanto do Cinema
Audiovisual na Periferia
3ºª Edição
Imagine que o mundo todo é o mar e que de tempos em tempos esse mar revolto se rebela e quer falar àqueles que nele habitam. Dois anos e contando... Não há pérola se não há dor. E o que isso tem a ver com o cinema? Tudo!
Nesse hiato forçado nos deparamos com a gente mesmo, desnudos frente ao espelho; o pior e o melhor de nós em nós mesmos. E como desatar esses nós se não pela arte? É assim que, como diz a lenda chinesa dos fios vermelhos, as histórias nascem, se cruzam e se mostram em forma de som, movimento, imagens, delírios.
A terceira edição do Festival Recanto do Cinema – Audiovisual na Periferia, com o tema “Futuros Imagináveis e Reorganização do Sensível”, nos convida a mergulhar nas profundezas dessas pérolas traduzidas em arte e acalanto, não só para nos acolhermos em nossas dores, mas também para juntos imaginarmos curas e futuros possíveis.
O que será que o futuro nos reserva? Qual o nosso papel como sujeitos no mundo? O que podem os nossos corpos? Como resistir e se reorganizar em uma sociedade que tenta podar os nossos sonhos? Como as visualidades fílmicas feitas por toda uma parcela marginalizada quer dizer de nós, de cada um? Essas foram algumas das perguntas que surgiram no decorrer do visionamento dos 530 filmes inscritos e na escolha dos 17 curtas finalistas para compor a Mostra Competitiva de Curtas-Metragens Brasileiros.
O processo dessa curadoria não foi uma tarefa fácil. Dar a atenção devida, cuidadosa e com responsabilidade ética a cada projeto fílmico, a cada realizador, ao mesmo tempo em que temos de dar conta das demandas e correrias do dia a dia, refletiu muito em nossas escolhas. Antes a curadoria era um local não palpável e distante para nós. Hoje, tornou-se uma ferramenta importante sobre como queremos nos comunicar com a sociedade; de como os nossos olhares podem alcançar outros espaços.
Assim, para essa Mostra, demos uma atenção especial a filmes que buscam discutir e potencializar discursos periféricos e contra-hegemônicos, sejam eles representados em formas de direção ou de narrativas protagonizadas por mulheres, negros e negras, indígenas e pessoas LGBTQIA+. São filmes que atravessam feridas e abrem cicatrizes e, ao mesmo tempo, aquecem corações e os curam.
A Mostra Competitiva de Curtas Brasileiros está dividida em quatro sessões temáticas, com filmes que se potencializam e que se comunicam entre si. Abrimos a Mostra com a sessão Futuros Imagináveis, que tem como norte discutir o passado e o presente para compreender o futuro. A sessão Pertencer é Preciso traz histórias e personagens nas quais despertam os sentimentos de ser, de estar e de pertencer. Corpos em Movimento aborda filmes por meio das diversidades de corpos e como eles se comunicam com os espaços em que transitam. E, por fim, a sessão Universos em Expansão nos faz transpassar barreiras, acessar outros mundos ao discutir, refletir e construir espaços que fortalecem narrativas dos corpos-memória, dos corpos dissidentes e dos corpos com história.
Todas essas pérolas fílmicas se conectam aos nossos ancestrais, às Anas, às Linas, às mais velhas que iluminam o vento sem pressa, mas com fôlego vivo forrando toda a vastidão do ser. Cada frame é uma carta insone. Todo corpo tem uma história para contar e que nesse mar revolto haja ostras sem custódia, mãos sagradas e passos para serem seguidos. Desfrutemos, pois, do que há por vir, o que é bom está logo ali.
Equipe da curadoria do Festival